A
Paraíba é um celeiro de grandes artistas e este fato não se discute.
Acompanhamos em nossa história o nascimento e crescimento de nomes que se
transformaram em ícones nacionais e internacionais. Eu começo citando Jackson
do Pandeiro, paraibano de Alagoa Grande, conhecido como o “rei do ritmo”, que
foi importante influência para a música popular brasileira e, ao lado de Luíz
Gonzaga, pernambucano de Recife, o “rei do baião”, se tornou responsável pela
nacionalização de canções nordestinas.
A
música é elemento da nossa identidade cultural, a marca de um povo, que
registra as diversas transformações ocorridas ao longo das gerações. Mas a
música muda de acordo com o tempo e sofre modificações do mercado exigente e
competitivo, o que a torna em um produto de consumo.
Acompanhe
o bate-papo com o músico Lis Albuquerque sobre a sua carreira artística e como
ele define a relação música x consumo x mercado.
Bruna - Quais os
eventos ou festivais que você já participou em João Pessoa ou pelo estado?
Lis - Já faço música, cultura, ativismo, aqui na Paraíba desde o inicio dos anos
80. Passei um tempo no sul do país, mas já estou de volta há vinte anos. Nesse
tempo realizei a criação de diversos trabalhos que para mim foram e ainda são
importantes como o projeto Folia de Rua, o sêlo Aquarius (gravadora), a
gravação de 2 discos e o espetáculo PARAHYBA SIM SINHÔ (em cartaz todas as
quartas e quintas no restaurante Camarão Grill). Participei de vários festivais
e também produzi outros, mas os que mais me deram destaque e experiência na PB
foram o FREVANÇA, CANTA NORDESTE e FORRÓ FEST, neste último, onde participei
por 07 vezes, tive o privilégio de ganhar o primeiro lugar este ano com a
música É TUDO FORRÓ (Lis – Alberto Arcela) o que veio a ampliar ainda mais
minha visão e admiração pelas grandes produções que traduzem profissionalismo e
respeito pela arte da música. Vários outros eventos tive a oportunidade de
participar pelo Brasil. Quando morava no Rio de Janeiro e depois São Paulo,
toda semana haviam encontros de nordestinos que cantavam suas origens em locais
freqüentados por artistas e intelectuais que se revezavam apresentando a nova
música do Brasil que vinha do Nordeste. Nesse bloco estavam eu, Lenine, Tadeu
Mathias, Bráulio Tavares, Capilé, Cátia de França, Fagner, Belchior e tantos
outros que carregavam nas costas a responsabilidade de divulgar a musica do
Nordeste. Atualmente tenho me dedicado a trabalhar nessa linda região em que
vivemos. O Nordeste é quase um grande país, com uma cultura comercialmente
promissora e com novos espaços para os que estão realizando trabalhos com
profissionalismo e dedicação.
Bruna - Sabemos que a globalização é um fenômeno sem fronteiras e que influencia
diretamente nas indústrias de consumo de produtos musicais. Como você define a
relação música x consumo x mercado?
Lis - Não é
o caso de ser contra a Indústria Cultural. Mas nesses tempos de globalização,
de neoliberalismo, as pessoas só querem saber do lucro. De quanto custa esse ou
aquele objeto cultural. O que é mais importante para o Brasil: Parrá
ou uma banda pop ou sertaneja? Para a indústria cultural a banda
pop ou sertaneja trará muito mais lucros. Aí eu também pergunto:
como ficam as músicas de conteúdo, a cultura popular de origem, por exemplo, a
batida dos índios, caboclinhos? Devido à várias indefinições dentro do
que é aceitável ou não, é que nossa identidade está fragmentada, quase
destruída. Isso sem falar na enxurrada de bandas de forró que ocupam espaços
relevantes na sociedade. Em outras palavras, são dois pesos e duas medidas.
Bruna - Conte um
pouco sobre a sua rotina: o trabalho de compor, a elaboração de uma música, a
gravação. E quais as suas expectativas em relação ao futuro de sua música aqui
na Paraíba.
Lis - Tenho alguns parceiros que constitui ao longo dos anos, dentre eles Alberto
Arcela que tem sido um norte na elaboração de trabalhos de vanguarda. Sou
daqueles que exerce várias funções durante o dia, todas elas ligadas à música,
desde produção, elaboração e execução de projetos culturais, isso sem falar que
o aprendizado é constante, estou em processo criativo o tempo todo e é
fundamental discernir as ideias para que não sejam divulgadas em vão. Já
participei de todo tipo de evento na Paraíba, mas sempre
falta algum, os espaços são limitados, é preciso criatividade para
expandir o potencial em todas as áreas, por exemplo, turística e/ou
corporativa, associativas, etc. Aqui as coisas são amadoras demais para
visibilizar um artista por si só, ele tem que buscar mecanismos
alternativos que completem seu trabalho, isso sem falar também na indústria da
pirataria que afeta à todos. É hora de sair, de intercambiar, de trocar ideias
com os estados vizinhos, saber o que eles estão fazendo e procurarmos juntos
uma solução para a música nordestina de forma geral, incluindo a cultura
popular, sem demagogia é claro. Temos que tirá-la desse marasmo e, de
alguma forma, negociar com as indústrias da mídia uma corelação de
valores e participações. A Paraíba ainda está engatinhando quando se
trata de produção alternativa. Os verdadeiros atores não estão participando da
cena e isso faz com que alguns projetos sejam feitos a toque de caixa, deixando
a classe artística sem amparo ou mesmo sem alternativas morais, pois não há
mercado que suporte a demanda de novos trabalhos e qualificados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário