sexta-feira, 10 de maio de 2013

Um bato-papo com o músico e militante cultural Lis Albuquerque


A Paraíba é um celeiro de grandes artistas e este fato não se discute. Acompanhamos em nossa história o nascimento e crescimento de nomes que se transformaram em ícones nacionais e internacionais. Eu começo citando Jackson do Pandeiro, paraibano de Alagoa Grande, conhecido como o “rei do ritmo”, que foi importante influência para a música popular brasileira e, ao lado de Luíz Gonzaga, pernambucano de Recife, o “rei do baião”, se tornou responsável pela nacionalização de canções nordestinas. 

A música é elemento da nossa identidade cultural, a marca de um povo, que registra as diversas transformações ocorridas ao longo das gerações. Mas a música muda de acordo com o tempo e sofre modificações do mercado exigente e competitivo, o que a torna em um produto de consumo. 

Acompanhe o bate-papo com o músico Lis Albuquerque sobre a sua carreira artística e como ele define a relação música x consumo x mercado.

Bruna - Quais os eventos ou festivais que você já participou em João Pessoa ou pelo estado?
Lis - Já faço música, cultura, ativismo, aqui na Paraíba desde o inicio dos anos 80. Passei um tempo no sul do país, mas já estou de volta há vinte anos. Nesse tempo realizei a criação de diversos trabalhos que para mim foram e ainda são importantes como o projeto Folia de Rua, o sêlo Aquarius (gravadora), a gravação de 2 discos e o espetáculo PARAHYBA SIM SINHÔ (em cartaz todas as quartas e quintas no restaurante Camarão Grill). Participei de vários festivais e também produzi outros, mas os que mais me deram destaque e experiência na PB foram o FREVANÇA, CANTA NORDESTE e FORRÓ FEST, neste último, onde participei por 07 vezes, tive o privilégio de ganhar o primeiro lugar este ano com a música É TUDO FORRÓ (Lis – Alberto Arcela) o que veio a ampliar ainda mais minha visão e admiração pelas grandes produções que traduzem profissionalismo e respeito pela arte da música. Vários outros eventos tive a oportunidade de participar pelo Brasil. Quando morava no Rio de Janeiro e depois São Paulo, toda semana haviam encontros de nordestinos que cantavam suas origens em locais freqüentados por artistas e intelectuais que se revezavam apresentando a nova música do Brasil que vinha do Nordeste. Nesse bloco estavam eu, Lenine, Tadeu Mathias, Bráulio Tavares, Capilé, Cátia de França, Fagner, Belchior e tantos outros que carregavam nas costas a responsabilidade de divulgar a musica do Nordeste. Atualmente tenho me dedicado a trabalhar nessa linda região em que vivemos. O Nordeste é quase um grande país, com uma cultura comercialmente promissora e com novos espaços para os que estão realizando trabalhos com profissionalismo e dedicação.

Bruna - Sabemos que a globalização é um fenômeno sem fronteiras e que influencia diretamente nas indústrias de consumo de produtos musicais. Como você define a relação música x consumo x mercado?

Lis - Não é o caso de ser contra a Indústria Cultural. Mas nesses tempos de globalização, de neoliberalismo, as pessoas só querem saber do lucro. De quanto custa esse ou aquele  objeto cultural. O que é mais importante para o Brasil: Parrá ou uma banda pop ou sertaneja?  Para a indústria cultural a banda pop  ou sertaneja trará muito mais lucros. Aí eu também pergunto: como ficam as músicas de conteúdo, a cultura popular de origem, por exemplo, a batida dos índios, caboclinhos? Devido à várias indefinições dentro do que é aceitável ou não, é que nossa identidade está fragmentada, quase destruída. Isso sem falar na enxurrada de bandas de forró que ocupam espaços relevantes na sociedade. Em outras palavras, são dois pesos e duas medidas.

Bruna - Conte um pouco sobre a sua rotina: o trabalho de compor, a elaboração de uma música, a gravação. E quais as suas expectativas em relação ao futuro de sua música aqui na Paraíba.
Lis - Tenho alguns parceiros que constitui ao longo dos anos, dentre eles Alberto Arcela que tem sido um norte na elaboração de trabalhos de vanguarda. Sou daqueles que exerce várias funções durante o dia, todas elas ligadas à música, desde produção, elaboração e execução de projetos culturais, isso sem falar que o aprendizado é constante, estou em processo criativo o tempo todo e é fundamental discernir as ideias para que não sejam divulgadas em vão. Já participei de todo tipo de evento na Paraíba, mas sempre falta  algum, os espaços são limitados, é preciso criatividade para expandir o potencial em todas as áreas, por exemplo, turística e/ou corporativa, associativas, etc. Aqui as coisas são amadoras demais para visibilizar um artista por si só, ele tem que  buscar mecanismos alternativos que completem seu trabalho, isso sem falar também na indústria da pirataria que afeta à todos. É hora de sair, de intercambiar, de trocar ideias com os estados vizinhos, saber o que eles estão fazendo e procurarmos juntos uma solução para a música nordestina de forma geral, incluindo a cultura popular, sem demagogia é claro. Temos que tirá-la desse marasmo e, de alguma forma, negociar com as indústrias da mídia uma corelação de valores e participações. A Paraíba ainda está engatinhando quando se trata de produção alternativa. Os verdadeiros atores não estão participando da cena e isso faz com que alguns projetos sejam feitos a toque de caixa, deixando a classe artística sem amparo ou mesmo sem alternativas morais, pois não há mercado que suporte a demanda  de novos trabalhos e qualificados.   

                                    

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